O estado do ciberespaço português

Ameaças e soluções num mundo digital em evolução

Digital Trust Insights em Portugal
  • Março 05, 2025

As empresas e entidades públicas portuguesas estão cada vez mais conscientes dos perigos cibernéticos – mas para garantir a segurança de serviços e infraestruturas digitais, é necessário aumentar o investimento em processos, ferramentas e pessoas (incluindo a sua capacitação com formação). O crescimento da Inteligência Artificial torna o cenário ainda mais complexo.

A PwC partilha consigo uma breve análise às principais ameaças no contexto da Cibersegurança em Portugal e apresenta algumas das medidas que a sua organização deve adotar para se proteger.

O impacto do ransomware a nível nacional

Sabia que o ransomware tem sido a ciberameaça mais relevante em Portugal? Este ciberataque que, dentro do que se define como Engenharia Social, utiliza o envio de software malicioso, através de links em emails, para obtenção de compensação financeira através do bloqueio do equipamento infectado, foi a ciberameaça com maior impacto em território nacional nos últimos anos.

O relatório do CNCS indica que a atividade maliciosa no ciberespaço de interesse nacional em 2023 foi “intensa e com efeitos negativos em serviços e infraestruturas digitais”, apesar do número de incidentes ter diminuído face a 2022. ​​O ransomware foi a ciberameaça mais relevante, sobretudo pelo impacto que teve nas instituições locais. As estimativas sobre o custo financeiro dos incidentes cibernéticos variam consoante as fontes e metodologias utilizadas, tornando-se difícil quantificar o seu impacto a nível global ou nacional. "É necessária uma abordagem abrangente baseada em dados para medir e mitigar os custos económicos", nota uma análise recente do Banco Mundial[1]. A Comissão Europeia aponta para um impacto mundial na ordem dos €5.5 biliões [trillion] anuais[2].

Cronologia de ciberataques em Portugal

Em outubro, a Agência para a Modernização Administrativa (AMA) foi alvo de um ataque de ransomware[3] que paralisou plataformas e serviços públicos durante vários dias. Na mesma altura, a Autoridade Tributária confirmou que pelo menos nove mil credenciais foram extraídas do Portal das Finanças e divulgadas na internet durante o verão, aconselhando os cidadãos a alterar as passwords de acesso à plataforma pública. ​

Segundo o Centro Nacional de Cibersegurança, o leak da AT “não está relacionado com o incidente” registado na AMA[4]. “O leak em causa, constituído por grupos de credenciais expostas, resulta de atividade criminosa com recurso a infostealers e instrumentos semelhantes”, explica o CNCS em nota enviada à imprensa, sublinhando que a publicação deste tipo de dados pessoas “é algo que ocorre com alguma regularidade”.

​Já “existem grupos nacionais mais ou menos organizados que praticaram este tipo de criminalidade”, sublinha o CNCS no relatório “Cibersegurança em Portugal: Riscos e Conflitos 2024”[5], publicado em julho. Além disso, os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente contribuíram para um aumento de ataques por parte de agentes estatais e cibercriminosos com motivações político-ideológicas (hacktivistas). “Enquanto os atores estatais atuam com uma maior complexidade tecnológica e menor visibilidade, os hacktivistas seguem uma lógica inversa”, analisa o relatório.

“Há ataques provenientes de atores estatais que têm por objetivo a soberania de Portugal“ e “a recolha de informação confidencial”, avisou em dezembro o diretor dos Serviços de Informações de Segurança (SIS), Adélio Neiva da Cruz[6]. A utilização crescente da Inteligência Artificial (IA) para este tipo de crimes torna o contexto atual ainda mais complexo.

Segundo o relatório do CNCS acima mencionado, “a percentagem de organismos da Administração Pública com uma estratégia para a segurança da informação definida aumentou de 59% em 2022 para 67% em 2023”. No entanto, como revelam os resultados do estudo mais recente da PwC, 2025 Global Digital Trust Insights, as organizações ainda não têm estratégias transversais para se protegerem eficazmente dos principais ciberataques.

Entidades de Administração Pública com estratégia de Segurança de Informação em Portugal

Explorar o factor humano: o fenómeno da Engenharia Social

Definida como uma técnica de manipulação capaz de explorar erros humanos com a finalidade de obter informações confidenciais ou acessos, a Engenharia Social ganha cada vez mais importância também em Portugal.

“Os casos associados à exploração do fator humano tiveram muita importância, provocando amiúde prejuízos económicos”, explicam os especialistas do CNCS, referindo-se a ataques de phishing, smishing, e outras formas de engenharia social (como o recurso a SMS falsas de autenticação, uma técnica denominada spoofing).

“Os ciberataques em Portugal aumentaram mais de 716% entre 2015 e o final de 2023, segundo dados do Centro Nacional de Cibersegurança. Os criminosos estão cada vez mais sofisticados a explorar falhas como passwords facilmente decifráveis, softwares desatualizados, ou definições de segurança mal configuradas. ​ Os resultados do estudo mais recente da PwC, 2025 Global Digital Trust Insights, mostram que as organizações ainda não têm estratégias transversais para se protegerem desses riscos.”

Marcelo Ferreira Rodrigues,Cybersecurity & Privacy Partner da PwC Portugal
Ciberataques em Portugal

Outro trabalho do CNCS, sobre o impacto social da cibersegurança[7], publicado em dezembro, nota que as organizações nacionais demonstram uma postura proativa em relação à cibersegurança – mas a escassez de recursos internos dificulta a gestão eficaz dos riscos, e por isso o investimento em segurança cibernética e em ações de sensibilização que deve continuar a ser reforçado. “O uso insuficiente da Autenticação Multifator [i.e. verificação em dois passos] na Administração Pública é particularmente preocupante, atuando negativamente sobre esta e outras ameaças, sobretudo as que envolvem palavras-passe e o acesso a contas”, nota o relatório.

As principais ciberameaças a nível nacional e como combatê-las

O ciberespaço português vai enfrentar seis ameaças principais nos próximos anos, indica o CNCS:

  • exploração de vulnerabilidades de zero-day (falhas nunca identificadas pela organização e que por isso não têm uma solução imediata);
  • mais ataques maliciosos através de pens USB;
  • maior risco de cyber sabotagem e hacktivismo;
  • incidentes de cibercrime com recurso a criptomoedas;
  • mais desinformação criada por GenAI; e
  • uma persistência de ameaças que exploram o factor humano.
     

[1] Vergara Cobos, Estefania; e Cakir, Selcen. setembro de 2024, A Review of the Economic Costs of Cyber Incidents, World Bank.
[2] A cybersecure digital transformation in a complex threat environment, junho de 2019 (atualizado a janeiro de 2023), European Commission.
[3] Andrade, Francisca, 10 de outubro de 2024, Ransomware paralisa infraestruturas e serviços online da Agência para a Modernização Administrativa, Exame Informática.
[4] Andrade, Francisca, 16 de outubro de 2024, Ataque à AMA: Leak da Autoridade Tributária “não está relacionado com o incidente”, Exame Informática.
[5] Cibersegurança em Portugal – Riscos e Conflitos 2024, 5.ª Edição, outubro de 2024, Centro Nacional de Cibersegurança.
[6] SIS diz que há ciberataques que têm como objetivo a soberania de Portugal, 9 de dezembro de 2024, Agência Lusa via Observador.
[7] Cibersegurança em Portugal – Sociedade 2024, 6.ª Edição, dezembro de 2024, Centro Nacional de Cibersegurança.

Global Digital Trust Insights 2025

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Marcelo Ferreira Rodrigues

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