As empresas familiares beneficiaram durante muito tempo de um ‘trust bonus’ relativamente a outros tipos de organizações. Porém, no mundo atual, a equação para vencer – e manter – a confiança mudou e as empresas familiares precisam acompanhar esta tendência.
“A confiança continua a ser uma das principais vantagens competitivas das empresas familiares. O nosso estudo mostra que as empresas familiares já estão a priorizar o que é mais relevante para os seus stakeholders e para tal, necessitam de adotar novas fórmulas de sucesso para construir confiança e proteger o seu legado. Existe uma correlação, extremamente forte, entre confiança e sucesso do negócio.”
Rosa Areias
Entrepreneurship & Private Business Partner
PwC Portugal, Angola e Cabo Verde
A maioria das empresas familiares portuguesas acredita que é essencial ter confiança nos clientes, colaboradores, fornecedores e familiares, mas ainda existe uma diferença entre dizer que precisam dessa confiança e realmente confiar nestes intervenientes.
As empresas familiares sabem que a confiança dos clientes e familiares é essencial, mas essas empresas precisam de ser mais proativas na construção da confiança com os seus principais grupos de partes interessadas, especialmente colaboradores e o público em geral.
A um nível básico, a fórmula para construir confiança está a expandir-se. As empresas precisam de ter em conta que os novos stakeholders têm expectativas diferentes em torno do que constrói a confiança, e que consomem informação de formas totalmente diferentes. Quando se trata destas novas medidas para ganhar confiança, as empresas familiares precisam de fazer um trabalho muito melhor: aumentar a visibilidade dos seus esforços e comunicá-los consistentemente às partes interessadas.
De quem precisamos de confiança? O grupo de stakeholders aumentou |
O que os stakeholders exigem para ganhar confiança? As expectativas aumentaram: |
Que meios estamos a utilizar? As ferramentas mudaram |
Clientes | Excelentes serviços/produtos | Report anual |
Colaboradores | Reconhecimento da marca/legado | Website |
Família | + | + |
+ | Propósito definido | Redes sociais |
Público em geral/ Sociedade | Compromisso com ESG e DEI | Ter opinião em relação a questões sociais |
Comunicação transparente e eficaz | Concretização de compromissos |
A boa notícia é que a confiança é tangível e pode ser construída sistematicamente, no entanto, se as empresas familiares portuguesas quiserem proteger esse nível de confiança, é necessário que haja transformação – uma realidade que muitos líderes empresariais já estão a reconhecer. Dos 4.410 executivos que participaram da 26ª Pesquisa Anual Global de CEOs da PwC, mais de 40% acreditam que a sua empresa não estará adequada ao propósito em dez anos se continuar no seu trajeto atual.
Global: 79%
84% das empresas familiares portuguesas afirmam ter um propósito empresarial claro (Global: 79%). No entanto, muitos não tomam as medidas necessárias para garantir a sua eficácia, por exemplo ter os valores e propósitos da sua empresa incorporados nos seus processos de avaliação e satisfação. A maioria das empresas familiares portuguesas estabelece objetivos e metas para a satisfação do cliente e crescimento, mas apenas uma pequena minoria estabelece objetivos e metas para diversidade e inclusão. As principais prioridades das empresas familiares portuguesas nos próximos dois anos são a redução da pegada de carbono da organização (muito superior à média global), o aumento dos investimentos em inovação e a expansão para novos mercados ou segmentos de clientes. Os principais grupos prioritários para as EFs portuguesas são os acionistas e os clientes, seguidos pelos colaboradores. Em comparação com o global, os conselhos portugueses tendem a ser muito mais inclusivos.
Global: 15%
Global: 18%
Global: 31%
Global: 20%
Uma forte estratégia ESG deve ser incluída na medição do desempenho da empresa através de metas não financeiras e financeiras. A diversidade é importante para o maior grupo de clientes – geração do milênio e geração Z.
As empresas familiares portuguesas são propensas a acreditar que se encontram mais desenvolvidas num conjunto de áreas, incluindo a capacidade de adaptação e a rápida tomada de decisão, no controlo da qualidade dos sistemas de suporte à atividade ou nos sistemas de recolha do feedback dos clientes.
Tal como no global, a maioria das empresas familiares portuguesas admite que as questões relacionadas com o ESG e a diversidade ainda não estão no topo da sua agenda. Apenas 14% admitem estar "muito" focadas nos temas de sustentabilidade. Menos de metade das empresas familiares portuguesas têm uma pessoa ou equipa responsável pela Diversidade & Inclusão e ESG.
A confiança é construída de dentro para fora; uma empresa não terá a confiança dos seus clientes se não tiver a confiança dos seus colaboradores. De acordo com esta pesquisa da PwC, as empresas que criam ativamente oportunidades para os seus colaboradores desenvolverem competências têm maior e melhor desempenho e demonstram uma capacidade superior de atrair e reter talentos.
As empresas familiares portuguesas entendem a importância da confiança dos colaboradores. 80% diz que é essencial e essa convicção é acompanhada de ação: 57% dizem ter muito foco em atrair e reter talentos. Em última análise, a confiança do funcionário depende de três fatores:
A maioria das empresas familiares portuguesas consideram existir elevados níveis de confiança entre os seus membros (75%), ainda que 21% acredite deter a confiança da família, mas ser ainda necessário reforçá-la para que esta seja plena.
59% dos inquiridos consideram que existe uma comunicação frequente entre os membros da família, e a mesma percentagem diz existir uma concordância no que toca a pontos de vista e prioridades para a empresa (65% e 59% no global, respetivamente). A ocorrência de conflitos entre os membros das empresas familiares portuguesas não é frequente, e 55% diz que estes são habitualmente resolvidos sendo debatidos abertamente no seio da família.
33% dos respondentes em Portugal identificam a atual cultura da empresa como um desafio para a construção de confiança junto dos seus stakeholders.
Global: 5.2
Global: 31%
Global: 36%
Global: 57%
Global: 26%
O Family Business Survey é um inquérito global aos principais decisores das empresas familiares dentro de vários dos principais territórios da PwC. O objetivo do inquérito é obter uma compreensão do que as empresas familiares consentem sobre as questões-chave do dia-a-dia. O inquérito deste ano a 2.043 proprietários de empresas familiares (51 entrevistas em Portugal) em 82 territórios utiliza um modelo desenvolvido por Sandra J. Sucher, professora de gestão da Harvard Business School e autora, com Shalene Gupta, de The Power of Trust, para avaliar se as empresas familiares estão a fazer as coisas certas no mundo de hoje para construir confiança.