O ranking desta edição é liderado pelos Países Baixos (72 pontos em 100 possíveis), Suíça (69 pontos) e Islândia (68) – três países que desde há vários anos ocupam, consistentemente, os lugares cimeiros, à semelhança de Alemanha, Japão ou Áustria.
O desemprego jovem (entre os 15 e 24 anos) tem descido de forma consistente na maioria dos países da OCDE, e a média dos 38 países é atualmente cerca de 10%, a percentagem mais baixa dos últimos 20 anos.
Os últimos lugares continuam a ser ocupados por Itália e Grécia, como nas edições anteriores: apesar de pequenas melhorias, ambos reportaram as taxas de emprego jovem mais baixas da OCDE: 20% e 18% em 2023, respetivamente.
Nos últimos dez anos, os progressos para melhorar a qualidade do emprego jovem foram insuficientes. Portugal ainda tem dos resultados mais baixos da OCDE.
Em Portugal, o emprego jovem tem vindo a ganhar algum relevo no debate mediático, nomeadamente desde a última crise financeira. Em 2013, mais de 38% da população portuguesa, até aos 29 anos, estava desempregada – um problema que atingiu outros países do Sul da Europa, como Espanha, Grécia e Itália.
Na edição de 2014 do Youth Employment Index, Portugal era o 5.º pior país da OCDE com apenas 34 pontos, apenas à frente dos países referidos e da Costa Rica.
Acompanhando a recuperação económica europeia, o contexto nacional melhorou desde então: o desemprego jovem diminuiu de forma gradual e Portugal subiu significativamente noutros indicadores, como por exemplo na taxa de abandono escolar. No entanto, os últimos dados mostram que persistem algumas dificuldades.
Em maio de 2024, a taxa de desemprego jovem (entre os 15 e os 24 anos) voltou a subir, atingindo os 23%: é uma das maiores percentagens da União Europeia e o dobro da média da OCDE – mesmo com a economia nacional a atravessar um período de quase pleno-emprego.
Este ano, Portugal surge no 27.º lugar do YEI 2024, uma subida de 3 posições face à edição de 2018 (30.º) e de 7 face a 2014 (34.º, o lugar mais baixo desde que há registo).
Em número de pontos (0-100)
Analisando os dados além do impacto das crises económica e pandémica, percebe-se que “o desemprego jovem tem-se mantido estruturalmente elevado em Portugal”, como indica o Observatório do Emprego Jovem (OEJ, composto por investigadores do ISCTE) no seu relatório anual de 2023. No início do século, em 2002, a percentagem de jovens desempregados era de 10,5%, tendo sido sempre bastante superior depois disso.
Em sentido contrário, Portugal apresenta melhores resultados do que a média dos 38 países da OCDE analisados em dois indicadores: taxa de jovens que não estudam nem trabalham (13% vs 14%); e na taxa de entrada no ensino (enrolment rate, 92% vs. 85% na OCDE).
Portugal oferece hoje melhores condições de trabalho aos jovens do que há uma década. Contudo, ainda há muito trabalho a fazer para conseguirmos aproveitar os talentos qualificados que todos os anos saem das nossas escolas.
Gabriela Teixeira,Consulting Lead Partner da PwC PortugalGabriela Teixeira, Consulting Lead Partner da PwC Portugal, acrescenta ainda que “colocar esse conhecimento ao serviço da economia é essencial para diversificar sectores e acrescentar valor. Sem essa integração, planeada e sustentável, será muito difícil o país atingir crescimentos robustos e de forma regular, a médio e longo prazo”.
Força de trabalho entre 15-25 anos, em % do total
Fonte: International Labour Organization
É justamente neste âmbito que Portugal mais sai a perder quando comparado com outros países da OCDE: as falhas na transição entre o ensino – profissional ou superior – e o mercado de trabalho. Vários países têm políticas públicas mais eficazes e que garantem formação vocacional especializada, alinhada com o universo empresarial que compõe o mercado de trabalho, mesmo em casos de pouco sucesso académico.
Na Suíça, que desde 2006 tem figurado com regularidade nos lugares cimeiros do Youth Employment Index, dois terços dos alunos que abandonam o ensino obrigatório são encaminhados para o ensino vocacional, com mais de 250 profissões à disposição. E na Alemanha, o Estado federal investe em subsídios para jovens adultos pouco qualificados que estejam à procura de formação especializada.
Uma tendência que existe nos países nórdicos é a promoção ativa do trabalho jovem junto das instituições governamentais que têm parcerias com os estabelecimentos de ensino. Este processo que acontece, muitas vezes, numa fase inicial, ainda durante o percurso escolar. Nestas condições, os jovens não só adquirem experiência laboral, ainda durante o processo formativo, como ganham também conhecimentos para tomarem escolhas profissionais informadas para o seu futuro – o que acaba por beneficiar a economia do país como um todo.
Quando comparamos Portugal com algumas das economias mais avançadas da Europa, compreendemos a relevância da formação contínua enquanto uma das fundações de um país próspero e com menos desigualdades. Num mundo cada vez mais tecnológico, a passar por mudanças aceleradas, e com a sustentabilidade com cada vez maior destaque, as competências adquiridas ao longo da vida são tão relevantes como as que aprendemos no início.
Catarina João Morgado,Director da PwC's Academy – PwC PortugalCatarina João Morgado, Director da PwC's Academy, afirma ainda que “muito provavelmente, os jovens que nos próximos anos vão representar a maioria da nossa economia já não terão apenas uma profissão ao longo da carreira, mas várias”.
O caso de Espanha destaca-se exatamente pela recuperação de talento que parecia ‘perdido’: o país deixou os últimos lugares do ranking com uma subida de cinco posições face a 2018, aumentando a taxa de emprego jovem em dois pontos percentuais durante esse período (para 24%). Entre 2019 e 2021, o governo espanhol implementou um plano de ação para formar e direcionar jovens para profissões com escassez de mão-de-obra, prestando-lhes apoio durante os processos de candidatura. No ano seguinte, os contratos de carácter temporário foram praticamente eliminados numa reforma laboral, o que aumentou a estabilidade da força de trabalho mais jovem.
A Irlanda, um país com uma população semelhante à de Portugal, subiu cinco lugares no Index deste ano, passando para 18.º. São melhorias sucessivas desde 2010, quando o país caiu de forma abrupta para 26.º – apenas quatro depois de ter registado um 4.º lugar. Em parte, estes resultados devem-se ao Youth Employment Support Scheme (YESS), um programa do governo irlandês que oferece formação em contexto profissional a jovens entre os 18 e os 24 anos que estão desempregados há pelo menos um ano e a receber apoios sociais.
Há um efeito ‘bola de neve’ no desemprego jovem: quanto mais tempo dura a falta de ocupação, mais difícil é entrar ou reentrar num mercado de trabalho em níveis crescentes de qualificações. Os dados disponíveis indicam que Portugal tem um problema grave com a incidência do desemprego jovem de longa duração – ou seja, pessoas ativas até aos 29 anos que estão sem trabalhar há um ano ou mais. O país tem uma taxa de 31%, mais do dobro da média da OCDE (14%), apesar da percentagem não se alterar desde 2015 por falta de reporte de dados comparáveis. Há dez anos, na fase final da crise financeira, era de 35%.
“Os jovens menos qualificados, nomeadamente os que apenas concluíram o 3.º ciclo do ensino básico, são os que estão à procura de emprego há mais tempo. A diferença de tempo de procura entre este grupo e o dos mais qualificados tem vindo a aumentar”, nota o relatório do Observatório do Emprego Jovem.
A situação também não é fácil para os jovens qualificados. A taxa de emprego dos jovens recém-licenciados e diplomados em Portugal tem recuado nas últimas duas décadas, fixando-se nos 82% em 2023, segundo dados do Eurostat divulgados no final de agosto. Isto significa que 18% destes jovens – pessoas com 20 a 24 anos que terminaram este nível de ensino há menos de três anos – estavam excluídos do mercado de trabalho no final do ano passado.
No total, serão cerca de 240 mil pessoas com qualificações elevadas que não estavam a contribuir para a economia – sendo que o último relatório trimestral do Instituto Nacional de Estatística estima que o número atual esteja próximo dos 150 mil, com os restantes 90 mil noutras situações que justifiquem a inatividade, como o ingresso em pós-graduações e doutoramentos – que aumentaram 14% entre 2020 e 2023, por exemplo.
Se o regresso ao ensino não acontecer, os jovens entram na categoria dos “NEET”: jovens que não estão a estudar nem a trabalhar. Apesar de Portugal estar ligeiramente melhor do que a média da OCDE e da UE, cerca de 8,9% dos jovens entre os 15 e os 29 anos em Portugal estão nesta situação de inatividade, mostram os últimos dados do Eurostat. Esta percentagem sobe para os 11% entre 20 e 24 anos, a percentagem que foi contabilizada para este YEI.
Em suma, Portugal acompanhou a tendência de melhoria da União Europeia e OCDE nos últimos dez anos, robustecendo indicadores como a taxa de abandono escolar – um progresso também refletido no enrolment rate, ligeiramente acima da média da OCDE. Contudo, ao contrário de nações em circunstâncias similares, o país ainda não conseguiu capitalizar com o aumento das qualificações da sua população jovem, continuando a assistir a uma fuga de cérebros por vias da imigração.
Em agosto de 2024, o Governo anunciou três medidas para melhorar a qualidade do emprego jovem: apoios reforçados a estágios profissionais, bolsas para reter talento qualificado (doutorados) nas empresas, e incentivos à contratação sem termo de cidadãos inscritos no IEFP. O primeiro-ministro tem alertado para a urgência do problema. “Nós estamos a falhar, o país está a falhar. O país precisa mesmo de um sobressalto cívico, político, empresarial. Nós temos de conseguir absorver no nosso mercado de trabalho estes milhares e milhares de jovens que todos os anos saem das nossas universidades, dos nossos institutos politécnicos, e colocá-los ao serviço do crescimento do país”, salientou Luís Montenegro, em meados de agosto.
Criado em 2015 para analisar as principais tendências do emprego jovem nas 38 economias da OCDE.
A edição YEI 2024 usa dados internacionalmente comparáveis referentes a 2023, os últimos disponíveis.
As pontuações são calculadas numa escala de 0 a 10 e combinam quatro parâmetros acerca do mercado de trabalho jovem, num total de sete indicadores:
Taxa de emprego jovem (15-24)
Taxa de desemprego jovem (15-24)
Taxa de desemprego jovem de longa duração (15-24)
Rácio entre taxa de desemprego jovem e adulto (15-24/25-54)
Taxa de jovens com trabalhos part-time (15-24)
Taxa de jovens sem estudar nem trabalhar (20-24)
Percentagem de entradas / matrículas no ensino (15-19)
Referências Bibliográficas
• OCDE
- Education Statistics
- Employment and Labour Market Statistic
• Observatório do Emprego Jovem – ISCTE
• Instituto Nacional de Estatística
- Estatísticas do Emprego
• Comissão Europeia / Eurostat
- Unemployment Statistics
- Young people on the labour market
Faça o download do estudo completo, em inglês, disponibilizado pela PwC do Reino Unido e fique a par da realidade global.
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