Colaboradores satisfeitos são mais produtivos, eficientes e inovadores, e em Angola, o cenário não é diferente

20/03/24

Com o intuito de conhecermos melhor a realidade do mercado de trabalho em Angola no que concerne às práticas implementadas, no âmbito da felicidade e bem-estar no trabalho, convidámos Gladys Dinis, Diretora de Capital Humano do BFA (Banco de Fomento Angola), a partilhar a sua experiência, conhecimentos, perspetivas, estratégias e contributos nestes domínios.

“Faça o que você ama e você não trabalhará um dia”.
Quantos de nós já ouvimos esta frase? E quantas vezes questionamos se será assim de facto?

Trabalhar no que gostamos é gratificante, sentimo-nos motivados, as horas passam e o nosso corpo é invadido por adrenalina. Agora imagine quando essa não é a realidade? A energia falha, os dias de presentismo, absentismo são inúmeros, e vamos lá ser honestos, estar e não estar de facto tem um impacto brutal nas Pessoas e empresas.

Uma recente pesquisa da Harvard Business Review revelou que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores, e em África, Angola, isso não é diferente.
 

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As empresas que perceberam que o bem-estar das suas Pessoas tem um impacto significativo nos resultados, na marca e atratividade, têm procurado melhorar o bem-estar das mesmas. E têm efetuado isto de diversas formas, promovendo palestras, momentos de celebração, promoção de áreas de trabalho diferenciadas que fomentem a interação e outras ações.

A questão é... isso resolve? Ajuda. Primeiro é importante, no meu ponto de vista, perceber o que é felicidade no trabalho. Resposta simples: estar empolgado para realizar as suas tarefas e cumprir com as metas, e não ficar somente a aguardar a chegada de sexta-feira e não querer “morrer” no fim do domingo.

Isto não invalida que desejemos a chegada do fim-de-semana para termos momentos de lazer e desfrutar com quem mais queremos.

E surge outra questão... é possível a felicidade no trabalho? Sim, e ela pode ser vivenciada de diversas formas em ambientes que promovam:

  • um bom ambiente de trabalho com criação de equipas comprometidas e com noção clara de momentos de trabalho e de diversão;
  • remuneração financeira atrativa, seja remuneração fixa ou variável;
  • uma liderança que saiba motivar, promova a partilha de ideias e reconheça o contributo do todo;
  • boas condições de trabalho;
  • uma boa organização e distribuição das atividades, de modo, a não promover sobrecarga com a realização de horas extras;
  • uma boa localização facilita as deslocações e diminui o tempo de deslocações;
  • partilha transparente sobre a saúde financeira da empresa, uma empresa que tenha uma boa saúde financeira promove estabilidade para as suas Pessoas.

Não é fácil encontrar todos estes elementos e, sejamos realistas, a nossa felicidade não pode ser depositada nas mãos da empresa, parece-me bastante redutor. Esta ambição de sermos felizes no local de trabalho, deve ser partilhada pelas duas partes. Ao líder da Organização, seja ele dono ou Manager, a expectativa é que promova um ambiente produtivo, que lidere pelo mérito e resultado e não por conveniência, que assuma com coragem o seu papel em todos os momentos, bons ou maus. Do colaborador espera-se que traga na sua bagagem uma atitude propositiva, contribua com ideias, faça o seu trabalho com zelo e se vir algo errado, deve falar e propor uma solução e não somente criticar. Que estenda a mão ao seu colega quando o sente desmotivado, e o ajude a levantar-se.

A solidariedade deve ser de facto vivida nas Organizações e não ser vivenciada somente nas ações de responsabilidade social.
 

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Se não for promovida uma cultura na Organização de preocupação com o bem-comum é muito provável que a eficiência, a alegria de trabalhar e a produtividade sofram.

E esta cultura pode ser promovida usando várias estratégias, tendo em conta as características da população e negócio, vamos listar algumas delas:

Home Office

Com a pandemia fomos confrontados com esta nova dinâmica de trabalho e fomos percebendo que era possível, mesmo para as empresas mais conservadoras e um País como Angola, que apresenta ainda algumas debilidades a nível de comunicação, e isto tem um impacto grande nas nossas Pessoas, quer a nível de mobilidade, entrega e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
 

Gamification

A tecnologia faz parte de mais de 50% dos negócios e quem opera a tecnologia são pessoas, e além de ser importante colocá-las a par do que acontece é uma excelente forma de treiná-las, de forma dinâmica, com recurso a reconhecimento (prémios, etc.), e está comprovado que o gamification aumenta a eficiência, compromisso e a felicidade dos colaboradores.

Reconhecimento

Um colaborador que vê o seu desempenho reconhecido torna-se muito mais comprometido, e este reconhecimento pode vir de diversas formas (monetário, dias de folga, reconhecimento público do seu trabalho, etc.).


E como a felicidade no trabalho varia de pessoa para pessoa, o Colaborador tem um papel preponderante na promoção de um ambiente mais feliz, e não podem faltar algumas dicas para este também:

  • Promova um bom ambiente
    Tenha uma postura positiva com seus colegas e responsáveis. Seja cordial, mantenha uma relação de respeito com os seus colegas e não fomente conversas de corredor. Faça parte das actividades em grupo, comemorações, almoços ou até eventos fora do escritório, etc. Se tem espírito de promotor, participe na promoção destes momentos.
  • Peça feedback
    O reconhecimento é importante para qualquer pessoa e para um profissional é mais ainda. Muitas vezes, por desconhecermos qual a avaliação que é feita ao nosso trabalho, cresce um sentimento de ansiedade que afeta o nosso desempenho e eficiência. Peça feedback à sua liderança e pares.
  • Faça parte da solução
    É fundamental ter uma atitude positiva para encarar um dia de trabalho, já que dias menos bons existem. Ter uma atitude proactiva e resolver os problemas que aparecem, caso estejam ao seu alcance, é fundamental.
  • Lazer
    Proporcione momentos de descontração, um passeio no final do dia para descomprimir, jante com família ou amigos e verá que no dia seguinte terá as baterias carregadas.
  • Exercícios físicos
    Pode ser antes ou depois do trabalho, ajuda a manter a sua saúde física e contribuem também para a saúde mental e aumento do desempenho.
  • Preste atenção à sua saúde mental
    A saúde mental ganha cada vez mais preocupação, especialmente em ambientes de trabalho. Episódios de burnout são cada vez mais frequentes, seja por pressões e exigências de outros ou até exigências auto- impostas. Fique atento a sintomas como ansiedade, cansaço exagerado, falta de motivação e procure ajuda, caso necessário.
  • Planeie a sua carreira
    O plano de carreira é algo cada vez mais importante, pois a dinâmica da relação Colaborador e Empresa mudou muito. Crie objectivos, invista em educação e busque alternativas, inclusive as que não incluem ficar na mesma empresa. Um dos grandes motivos para a infelicidade na vida profissional é sentir-se estagnado e sem novos horizontes.
  • Organize o seu dia
    Colocar tudo em papel ou planilha e planear as horas é de enorme ajuda, já que todas as actividades podem ser encaixadas e compartimentadas. Uma simples lista com as tarefas por fazer e as completadas têm um grande impacto psicológico e motivacional. Inclua na mesma, momentos para tomar um café, uma volta no escritório, respirar ar puro, enfim, sair da bolha.
  • Crie a melhor situação possível
    Todo o trabalho tem os seus desafios, momentos maçadores, de dúvidas e insegurança. Tente olhar para a sua situação da melhor forma possível. Evite ao máximo protelar a felicidade para quando conseguir um aumento ou aquela promoção. Sou defensora de que, tanto Líderes como Colaboradores têm a responsabilidade de criar um ambiente feliz.

Em suma, estamos todos conscientes que a felicidade no trabalho não é algo fácil a ser alcançado. E muitos de nós fomos criados na mentalidade de que trabalho não é para ser divertido e sim uma fonte de rendimento.

Líderes precisam saber motivar, criar condições de trabalho, desde a estrutura física, recompensas e formas de reconhecimento. E os colaboradores precisam de ser proativos, não só para apontar o dedo, mas também ajudar a construir um ambiente positivo.

As gerações mais novas valorizam trabalhos com um significado, que criam a grande solução, a melhoria na vida das pessoas ou simplesmente um catalisador que as faça levantar pela manhã.

Não será tudo um mar de rosas, não nos enganemos, pois, a pressão pelos resultados vai continuar, as crises económicas, taxas altas, inflações etc., mas não sejamos tão cépticos, igualmente.

Vamos dar o benefício da dúvida e contribuir todos para um ambiente melhor nas empresas, fazendo cada um a sua parte.

Sejam felizes fazendo a vossa parte e façam alguém feliz!” 


Gladys Dinis
Directora de Capital Humano
Banco de Fomento Angola

 


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