20/03/24
O percurso da Gestão de Recursos Humanos (GRH) nas Organizações Cabo Verdianas tem sido semelhante ao que se foi fazendo a nível internacional, embora a um ritmo bastante mais lento e sujeito aos fatores contingenciais, nomeadamente as questões culturais e geográficas que caracterizaram e ainda caracterizam o tecido empresarial do país.
Enquanto que no mercado internacional, a GRH ganhou rapidamente relevância e uma posição central na gestão das empresas, já em Cabo Verde o cenário ainda é diferente, onde observamos que a maior parte das Organizações ainda atuam muito na gestão mais administrativa e meramente operacional das suas pessoas, em vez de assumirem um papel mais proactivo e estratégico numa perspetiva mais integrada de gestão. Atualmente, ainda temos muitas empresas em que a gestão do seu pessoal é puramente administrativa e burocrática, na dependência de um departamento financeiro, dado que, ainda a prioridade de grande parte das empresas Cabo Verdianas é o lucro e o crescimento financeiro, seguida do desenvolvimento tecnológico e só depois a melhoria das condições de trabalho. Grande parte da Gestão de RH de Cabo Verde ainda é muito associada aos modelos clássicos de organização do trabalho ao nível de coordenação e controlo.
Associar o bem-estar ao trabalho é um objetivo comum de qualquer pessoa e um desafio para os profissionais de recursos humanos em qualquer empresa, nomeadamente no mercado de Cabo Verde, onde esta ambição depara com desafios acrescidos, dado que ainda, a realidade de gestão de RH tem um grande peso administrativo.
Apesar do Wellbeing já ser abordado e debatido em alguns fóruns do país, como uma necessidade que urge ser atendida no meio corporativo como um diferencial competitivo entre os maiores players do mercado, ainda observamos uma carência de práticas efetivas e implementação de políticas sustentáveis a longo prazo.
Nota-se ainda um pobre engajamento e participação dos decisores ou gestores de topo, bem como das instituições públicas que possam apoiar e reforçar as políticas empresariais e trabalhar na mudança da mentalidade sobre a importância de conciliar os interesses do negócio a uma filosofia de vida e de trabalho que motive e que faça com que os colaboradores se sintam bem no papel que desempenham nas empresas.
Vivemos um estado de constante mudança, onde é exigido às Organizações maior agilidade de transformação e alinhamento com o negócio. Agarre o presente e projete o futuro com a ajuda da PwC! Subscreva a HR for business.
Subscreva já a newsletter
Cada vez mais, nota-se que os colaboradores no mercado cabo-verdiano aspiram ter um trabalho que os desafia e os motiva. Precisamos enquanto RHs, garantir as pessoas certas nos lugares certos e felizes, e para tal, requer proporcionarmos um ambiente positivo para despertar um sentido de pertença a cada um dos indivíduos que integra as nossas Organizações, através de políticas que estimulam o respeito à diversidade, uma cultura inclusiva, atenta às necessidades e às expectativas das pessoas e garantir práticas de Wellbeing associadas ao sentimento de bem-estar.
Em Cabo Verde a GRH está num processo evolutivo de tomada de consciência de que têm um papel fundamental no processo de definir, planear e implementar políticas e práticas de Wellbeing estratégico nas empresas, tornando-se crucial passar a atuar como um facilitador, um orientador e um parceiro dos colaboradores e dos líderes, oferecendo suporte, recursos e ferramentas para que eles possam cuidar da sua saúde física, mental e emocional.
Uma vez que trabalhar o Wellbeing implica abordar as suas várias dimensões, em Cabo Verde, esta realidade só será possível de se criar e implementar se, a visão contar com o apoio a partir de cima, da gestão de topo das empresas. Esta filosofia de trabalho deve ser integrada ao nível da estratégia executiva e ser um compromisso coletivo, sem ficar apenas a cargo das equipas de RH. Afinal o compromisso com o desenvolvimento das pessoas é de todos os gestores e líderes que gerem pessoas e equipas.
Arrisco afirmar que, muito recentemente é que a GRH assumiu maior afirmação no contexto empresarial de Cabo Verde, particularmente no setor privado, porque num mercado de mudança constante, os Gestores de topo estão cada vez mais cientes que o mercado laboral está em constante mutação, o que requer de nós maior capacidade de adaptação e inovação nas formas de atuar, para que seja possível acompanhar as novas tendências. E, para tal, as novas formas de organização do trabalho têm elevado o posicionamento da GRH a um maior envolvimento nas políticas organizacionais em conjunto com a gestão de topo.
Neste sentido, nota-se uma crescente sensibilização do mercado de trabalho em Cabo Verde que, quando a cultura positiva de trabalho é apoiada pela gestão de topo, este por sua vez encoraja os líderes a serem os embaixadores desta mentalidade e apoiarem a implementação das políticas que despertem emoções positivas nas suas equipas, promovendo e estimulando o bem-estar, impactando na saúde física, emocional e mental dos seus colaboradores e, consequentemente, na produtividade, nos resultados e no negócio.
As empresas em Cabo Verde precisam apostar numa gestão mais estratégica das pessoas e desenvolver as suas lideranças para acompanhar o novo normal que já é realidade a nível internacional: o interesse genuíno e o cuidado no bem-estar do nosso capital humano.
Grande parte da Gestão de RH de Cabo Verde ainda é muito associada aos modelos clássicos de organização do trabalho ao nível de coordenação e controlo. Associar o bem-estar ao trabalho é um desafio para os profissionais de RH, onde esta ambição depara com desafios acrescidos, dado que ainda, a realidade de gestão de RH tem um grande peso administrativo.”
Falar de felicidade e bem-estar no trabalho em Cabo Verde requer clarificar conceitos que ainda são utópicos para a maior parte das realidades empresariais. Ainda é um desafio as pessoas perceberem que podem alcançar um estado de realização pessoal/profissional alinhado com saúde e bem-estar, porque a maior parte das pessoas considera tóxico o seu local de trabalho, onde muitas vezes as políticas de cartazes nas paredes não coadunam com as práticas onde observa-se ainda que, falta uma atuação da figura dos RHs como parceira do negócio e falta de confiança nas lideranças que pautam a gestão das equipas com base na sobrecarga de trabalho, onde o mérito é substituído pelo quesito disponibilidade de trabalhar várias horas extraordinárias, colocando em causa o nosso work-life balance.
A felicidade no trabalho requer abordar questões estruturais e de base que permitem edificar uma cultura corporativa que seja positiva, nomeadamente:
Primeiro, requer definir um alinhamento entre colaboradores, empresas e a sociedade quanto ao PROPÓSITO comum. Ter um propósito claro e bem definido orienta as atividades da empresa, serve como um guia para a tomada de decisões estratégicas e influencia a forma como a Organização se posiciona no mercado. Os colaboradores precisam identificar-se com a essência da empresa e os seus valores têm de ser semelhantes. As empresas devem procurar pessoas alinhadas aos seus propósitos. O mercado de trabalho atual já procura marcas que estejam alinhadas com o que acreditam.
Segundo, acredito que uma empresa pode criar impacto positivo nas várias esferas, na medida em que podem atuar continuamente na experiência das pessoas (desenvolvimento e engajamento e não só a contratação, a capacitação e a desvinculação) na empresa. Ambicionar em ser uma boa empresa para trabalhar ou até mesmo a melhor empresa para trabalhar, criando benefícios para apostar no engajamento das pessoas e apostar no grau de conexão que os colaboradores se sentem emocionalmente ligados com a sua empresa e se estão dispostos a investir esforços extras para alcançar o sucesso da Organização. O nosso propósito é um reflexo dos nossos valores fundamentais, e sentimo-nos mais envolvidos no trabalho quando os nossos comportamentos e decisões quotidianas estão alinhados com esses valores, não queremos desempenhar apenas uma função, queremos fazer diferença na empresa e que impacte direta ou indiretamente na comunidade e no mundo, queremos transformar sociedades, queremos sentir que temos uma vida de significado, e que podemos construir tudo isso no nosso local de trabalho.
Terceiro, podemos definir metas para alcançar resultados que nos permite ser referência e líder do mercado no setor em que opera e promover resultados financeiros alinhados ao bem-estar das pessoas. De acordo com estudos, empresas com um propósito claro e forte são mais propensas a atrair clientes leais. Quando os consumidores percebem que uma empresa tem um propósito autêntico que vai muito para além dos objetivos financeiros, eles estão mais inclinados a apoiar os seus produtos e serviços e até promovê-los tornando-se embaixadores indiretos da marca.
O desafio nesta vertente está em defender o leque de benefícios que promovem a felicidade e a satisfação profissional, a saúde e o bem-estar como um valor estratégico para as empresas e não como um custo. Passa por trabalhar a mentalidade de que os benefícios têm a ver com a vida e ela é flexível. Devem estar de acordo com as necessidades das pessoas, e essas necessidades não só variam de colaborador para colaborador, mas também, não são as mesmas em diferentes momentos da vida de uma só pessoa, com isto acredito e da minha experiência, o maior desafio a nível financeiro é defender um plano a nível de gestão de topo com base nos argumentos de que reflete um investimento para maximizar retorno e não um custo, dado que a gestão do bem-estar das pessoas a nível financeiro nunca é prioridade, pois ao primeiro sinal de crise, é a área que sofre os cortes orçamentais. Ainda não há uma consciência do valor e não do preço de garantir tais benefícios corporativos.
E por último, mas não menos importante, contribuir para o desenvolvimento sustentável da comunidade ou do país onde atuamos (impacto social positivo abraçando causas sociais e ambientais promovendo, também, a felicidade e o bem-estar da comunidade envolvente).
À medida que vamos acompanhando a evolução das tendências, os GRHs estão a levantar outros temas e a direcionar a atenção para outros fatores com maior peso para o desenvolvimento e implementação de políticas e processos mais eficazes para atrair, desenvolver e engajar talentos chaves para as nossas Organizações, nomeadamente garantir a saúde e o bem-estar das pessoas, já que, diferente do nosso passado, os jovens de hoje já não se satisfazem apenas com uma estabilidade contratual ou com uma remuneração atrativa.
- Políticas e Práticas de Gestão Estratégica de Capital Humano (ex: Carreiras e Sucessões, Formação e Desenvolvimento, Retribuição e Benefícios)
- Programas de Wellbeing e Saúde Mental
- Estudos de Clima e Cultura Organizacional
- Wellbeing Assessments
- Employee Experience
- Coaching de Equipas e Individualizado
- Change Management
- People Analytics e Dashboards
- Diagnóstico de Workplace
* A PwC dispõe de diversas equipas especializadas que apoiam diferentes áreas de Wellbeing e Felicidade no trabalho.
Conheça os nossos serviços