A CSRD está a levar as empresas a dar ainda maior importância à sustentabilidade nas decisões empresariais. Cerca de três quartos das empresas que se preparam para reportar de acordo com a diretiva, incluindo aquelas com sede fora da UE, afirmam que estão a considerar a sustentabilidade de forma mais intensa na sua tomada de decisões. As empresas portuguesas também veem vários benefícios empresariais decorrentes da CSRD, incluindo maior mitigação de riscos e um modelo de governo interno mais eficaz.
Menos de metade das empresas portuguesas estão confiantes no cumprimento da CSRD, ao abrigo da nova legislação da União Europeia já em vigor.
Nesta primeira edição do Global CSRD Survey 2024, publicada pela PwC, foram inquiridos mais de 500 executivos e líderes em 38 países, incluindo 32 empresas em Portugal.
“Os resultados obtidos em Portugal mostram que as empresas estão conscientes da importância da sustentabilidade e da Diretiva CSRD. Precisam de mais informação e meios para cumprir todas as exigências regulatórias, mas este passo será positivo para a transição para uma economia mais sustentável e resiliente.”
Cláudia Coelho,Sustainability and Climate Change Partner, PwC PortugalOs principais obstáculos à implementação da diretiva em Portugal são a complexidade das cadeias de valor (67% PT; 59% global), o cumprimento dos prazos definidos (50% Portugal; 47% global), e a falta de informação de qualidade (47% Portugal; 59% global).
Várias empresas já completaram alguns dos principais passos para o cumprimento da diretiva, como confirmar as opções de relato e possíveis isenções (38% Portugal e 35% global) ou analisar a Taxonomia da UE (47% Portugal e 30% global).
A Diretiva CSRD já levou 41% das empresas portuguesas inquiridas a considerarem prestar atenção adicional à sustentabilidade no seu modelo de negócio (59% a nível global).
As conclusões desta primeira edição do Global CSRD da PwC reforçam que uma maior transparência nas áreas da sustentabilidade impulsionará mudanças na conduta das empresas. No entanto, as empresas afirmam enfrentar múltiplos obstáculos na implementação da CSRD, incluindo a complexidade da cadeia de valor, a falta de ferramentas tecnológicas e o cumprimento dos prazos.
Notas:
Entrevistados que selecionaram 'em grande medida' ou em 'larguíssima medida'.
Base: Global = 547 | Portugal = 32
Fonte: Global CSRD Survey da PwC
Embora muitas empresas já produzam relatórios anuais de sustentabilidade — e relatem de acordo com outras normas e referenciais de relato — os processos que suportam estas divulgações geralmente precisam de ser ampliados e reforçados para atender às exigências da CSRD. A diretiva requer que as empresas relatem não apenas a sustentabilidade das suas próprias operações, mas também de toda a cadeia de valor, e sobre uma gama mais ampla de tópicos do que a maioria da regulamentação considerou até agora. Além disso, a necessidade de relatórios com qualidade suficiente para os investidores exige processos que sejam replicáveis, bem documentados e passíveis de serem verificados por auditores independentes.
Apesar das empresas portuguesas demonstrarem níveis de confiança inferiores aos resultados globais (41% Portugal vs 63% global), a confiança varia bastante não só entre as empresas, mas também entre os tópicos estabelecidos nas normas de relato. As empresas portuguesas revelam uma confiança elevada em tópicos que geralmente já estão incluídos nas divulgações existentes (por exemplo, força de trabalho, conduta de negócio e alterações climáticas), mas estão muito menos confiantes na sua capacidade de responder aos requisitos de relato em tópicos menos familiares, como a água e recursos marinhos, biodiversidade, circularidade, poluição e consumidores finais.
Notas:
Entrevistados que selecionaram 'Moderadamente confiante', 'Muito confiante' ou em 'Extremamente confiante'.
Base: Global = 547 | Portugal = 32
Fonte: Global CSRD Survey da PwC
Além disso, apenas uma minoria das empresas concluiu as atividades iniciais para definir a abrangência da informação, mesmo entre aquelas que irão submeter a CRSD já no exercício financeiro de 2025. Os resultados sugerem que a confiança dos inquiridos aumenta à medida que a documentação necessária vai sendo organizada. Por exemplo, entre as empresas mais confiantes, mais de um terço já terminou de confirmar as opções e exceções de relato e completou as avaliações de dupla materialidade. Já as empresas que estão no início do seu percurso sentem-se menos confiantes.
Estas atividades iniciais de delimitação são cruciais, pois determinam se a empresa irá reportar ao nível do grupo consolidado ou de uma entidade individual, e portanto também definem quais os dados necessários, sobre que tópicos, de que fontes e em que cronograma. Só depois de concluídas estas primeiras etapas é que as equipas podem criar planos de trabalho concretos. Na experiência da PwC, as empresas consideram a CSRD menos assustadora quando compreendem em detalhe como os padrões de relato as afetam. Entre os inquiridos, 75% dizem que planeiam cumprir a CSRD ao nível do grupo consolidado.
Notas:
Base: Global = 547 | Portugal = 32
Fonte: Global CSRD Survey da PwC
Os resultados destacam que o número de tópicos sobre os quais as empresas reportam irá variar substancialmente, dependendo da dimensão, do modelo de negócio e da complexidade da cadeia de valor da empresa. Além disso, as avaliações de impactos, riscos e oportunidades são, de certa forma, subjetivas, mesmo com normas de relato detalhadas em vigor. Espera-se alguma convergência entre empresas semelhantes nos próximos anos, à medida que as empresas ganham mais experiência com as normas e à medida que as melhores práticas continuam a emergir.
Independentemente do âmbito que decidam adotar, as empresas portuguesas afirmam que a complexidade da cadeia de valor e o cumprimento dos prazos são os maiores obstáculos à implementação da CSRD. A abrangência e profundidade do relato da CSRD representam um enorme desafio, pois as equipas têm de recolher, verificar e consolidar muitos tipos de dados. Grande parte desta informação não existe, atualmente, nos sistemas de planeamento de recursos empresariais (ERP) e outras fontes centrais das empresas. É necessário rastrear manualmente esses dados a partir de folhas de cálculo e documentos originais (por exemplo, faturas), que por sua vez podem não estar centralizados. Estes processos são ineficientes e propensos a erros, a menos que as empresas prestem muita atenção aos fundamentos da estratégia de dados — como os dados de sustentabilidade são definidos, obtidos, geridos e processados.
A exigência da CSRD de analisar toda a cadeia de valor apresenta um desafio adicional relacionado com a qualidade dos dados. Muitas vezes, pela primeira vez, as empresas têm de utilizar dados de fornecedores, clientes e prestadores de dados externos, sendo necessário avaliar a sua fiabilidade. Compreender e definir a cadeia de valor para efeitos da CSRD é o primeiro passo, e requer um tempo considerável.
Notas:
Entrevistados que selecionaram 'em grande medida' ou 'em larguíssima medida'
Base: Global = 547 | Portugal = 32
Fonte: Global CSRD Survey da PwC
Conseguir abordar a amplitude e complexidade da CRSD é um esforço transversal a todas as áreas de uma empresa. Os inquiridos relatam, em média, que oito funções e departamentos empresariais já estão ou estarão envolvidos na implementação da diretiva, tipicamente incluindo a sustentabilidade, as finanças, os comités executivos e os concelhos de administração.
A informação que as empresas publicam atualmente sobre sustentabilidade deixa, frequentemente, muito a desejar. As informações relevantes estão em falta ou incompletas, não foram criadas com suficiente fiabilidade e transparência, e são muitas vezes difíceis de encontrar, ler e comparar. A fim de elevar a qualidade da informação de sustentabilidade ao mesmo nível que a informação financeira, a informação de sustentabilidade terá de ser verificada por um auditor externo. Inicialmente, será uma auditoria de "garantia limitada" e, previsivelmente em 2030, passará a ser uma "garantia razoável".
Dada a exigência de verificação no âmbito desta diretiva, a maioria das empresas parece ter compreendido esta necessidade, com 60% dos inquiridos a afirmar que já contrataram um auditor externo, seja o seu auditor financeiro (41%), outra firma de auditoria (16%) ou outro prestador deste tipo de serviços (3%).
Os comités executivos ou o departamento financeiro estão atualmente envolvidos na implementação da CSRD em mais de 80% das empresas portuguesas. Embora isso seja encorajador, é necessário que as equipas que ainda não envolveram esses stakeholders mais experientes o façam, especialmente nas empresas que têm como objetivo o relato em 2025. Sem uma governança sólida, com uma hierarquia consolidada e clareza sobre papéis e responsabilidades em todas as funções empresariais, há o risco de que os esforços de implementação estagnem.
Entre membros dos comités executivos, diretores financeiros (CFOs) e diretores de informação (CIOs), todos devem apoiar os diretores de sustentabilidade (CSOs), que em muitos casos têm liderado o planeamento e execução de relatórios de sustentabilidade até agora. Os CFOs experientes em processos de relato financeiro existentes têm a perceção do que é necessário quando se trata de divulgações de qualidade para os investidores, mas os CSOs que envolvem a função financeira podem concentrar-se de forma mais eficaz nas suas áreas de especialização distintiva: ajudar a empresa a aproveitar as oportunidades lideradas pela sustentabilidade e mitigar riscos.
Embora a maioria dos inquiridos planeiem envolver o departamento de IT/Tecnologia, será necessário redirecionar mais colaboradores logo numa fase inicial, de forma a que sistemas internos possam ser desenhados ou atualizados para incorporar os requisitos emergentes. Apesar de nem todas as empresas estarem prontas para iniciar um grande programa de investimento, direcionar o investimento tecnológico, aproveitando as bases existentes na nuvem e nos sistemas ERP, poderá ser uma das formas de alcançar relatórios eficientes e integrar os dados de sustentabilidade nos processos de tomada de decisão em toda a empresa.
Notas:
Base: Global = 547 | Portugal = 32
Fonte: Global CSRD Survey da PwC
Sem os investimentos em tecnologia, as organizações continuarão a depender significativamente dos processos manuais. Questionados sobre o uso de ferramentas tecnológicas, mais de 95% dos inquiridos afirmam estar a utilizar ou planeiam utilizar spreasheets para os relatórios de sustentabilidade, uma percentagem muito superior à de quem está a usufruir de tecnologias como os data lakes de sustentabilidade, soluções de gestão de divulgação e calculadoras de carbono.
É expectável que estes resultados mudem significativamente nos próximos anos, à medida que mais empresas investem em soluções que garantam relatórios eficientes e reproduzíveis, ao mesmo tempo que integram dados relacionados com a sustentabilidade nos processos de tomada de decisão em toda a empresa. Da mesma forma, é previsível que o número de empresas que utilizam ferramentas de inteligência artificial para os relatórios de sustentabilidade aumente substancialmente.
Notas:
Base: Global = 547 | Portugal = 32
Fonte: Global CSRD Survey da PwC
A CSRD faz parte de um esforço amplo por parte dos decisores políticos — não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, Austrália, China e outros países e territórios — para orientar as economias rumo a um futuro sustentável e de baixo carbono. Além das novas exigências de relato e outras políticas de sustentabilidade (por exemplo, o Carbor Border Adjustment Mechanism da EU e o Safeguard Mechanism da Austrália), os governos lançaram extensivos programas de investimento, como o Inflation Reduction Act dos EUA e o Green Deal Industrial Plan da Comissão Europeia, que têm como objetivo estimular a procura por bens e serviços de baixo carbono e incentivar o investimento nas indústrias que os fornecem.
Estas iniciativas irão potenciar as oportunidades de criação de valor para os negócios, se os líderes integrarem a sustentabilidade nas suas estratégias e planeamento, sendo compensadas pelo esforço na CSRD. O trabalho de recolha de dados de sustentabilidade e a preparação de divulgações pode fornecer aos executivos informações complementares para tomarem melhores decisões empresariais, algo que muitas empresas começam a entender, mesmo que algumas ainda mantenham um foco exclusivo na conformidade regulamentar.
A não conformidade com a CSRD pode comprometer a capacidade das empresas de se alinharem com as expectativas crescentes de transparência e responsabilidade ambiental. Mais de 75% dos inquiridos em Portugal acreditam que a sua empresa poderá vir a sofrer algum impacto negativo na reputação e marca, caso não esteja em conformidade com a diretiva, e 69% consideram que a sua empresa poderá enfrentar processos legais ou ter de pagar coimas. Em Portugal, ainda aguardamos a transposição da Diretiva para que possamos conhecer o quadro legal relativo a coimas e penalizações.
Notas:
Entrevistados que selecionaram 'provável' ou em 'muito provável'.
Base: Global = 547 | Portugal = 32
Fonte: Global CSRD Survey da PwC
Pela experiência da PwC, existem três ações que podem facilitar a preparação para a CSRD e a integração mais profunda da sustentabilidade na estratégia das empresas:
Avaliar o nível de alinhamento da empresa com os requisitos da CSRD e dos ESRS;
Preparar um roadmap para alinhamento com os requisitos.
Preparar o relato de sustentabilidade, de modo a assegurar o alinhamento com os requisitos aplicáveis.
Desenho e implementação de sistemas de informação para recolha e monitorização dos dados.
Entre abril e maio de 2024, a PwC realizou um inquérito a 547 executivos e profissionais seniores em mais de 30 países e territórios, contanto com a participação de 32 empresas em Portugal. Cerca de um terço dos inquiridos ocupam o cargo de Sustainability Manager, enquanto que 19% são CSO (Chief Sustainability Officer) em Portugal. Sessenta por cento das empresas representadas têm sede na União Europeia. Mais da metade possui receitas anuais superiores a 100 milhões de dólares americanos. Os setores representados incluem Energy, Utilities e Resources (28%); Financial Services (25%); Manufactoring e Automotive (25%); Consumer Markets (6%), Technology, Media e Telecoms (6%); Health industries (3%). Entre todos os inquiridos, 66% afirmam que irão submeter o relatório ao abrigo da CSRD, pela primeira vez, no ano financeiro de 2025, com base nos dados de 2024. Salvo indicação em contrário, os gráficos incluem todos os inquiridos (Portugal: 32; Global: 547).